Nascimento das histórias em quadrinhos Japonesas (Período Meiji)


Século XlX

       Em 1853 com a chegada do almirante Matthew Calbraith Perry ao Japão, foi possível a negociação da abertura dos portos ao Ocidente, pelo tratado de Kanagawa que garantia segurança dos marinheiros dos Estados Unidos que comercializavam bens estadunidenses por lá, e estabeleceu um consulado permanente no solo Oriental, acabando definitivamente com a política de isolamento no Japão do período anterior (período Edo). Essa abertura ficou consolidada no período Meiji (1868-1912) possibilitando grande entrada de materiais gráficos estrangeiros e de novas técnicas ilustrativas no pais, a junção dessas novas técnicas com as técnicas já conhecidas pelos japoneses, formaria hoje o que chamamos de mangá.

     Em 1862, inglês Charles Wirgman, lançou a revista mensal satírica The Japan Punch, adaptação de uma revista Britânica com mesmo nome, que satirizava políticos e pessoas públicas da época; essa revista era destinada a estrangeiros que viviam no pais, porem a mesma influenciava artistas nipônicos que começaram a assimilar novas técnicas e padrões de narrativa, como narrativa em balões e ilustrações em quadro sequência, essa forma de mimetização tornou possível a criação do próprio estilo japonês de ilustração de quadrinhos.

“As duas primeiras décadas do século 20 presenciaram a implantação definitiva da narrativa ilustrada no Japão, particularmente graças à introdução das primeiras strips (tiras) procedentes dos Estados Unidos, que da mesma maneira que nos países ocidentais, vão exercer sua potente influência entre os desenhistas japoneses.” (MOLINÉ, Alfons. “O grande livro dos mangás” pág. 19)

                     

      Outro semanário responsável por um estrangeiro no Japão foi o Tôbaé criado pelo francês George Bigot (1860-1927) publicada em 1887, que influenciou ainda mais artistas a adotarem o balão como ferramenta narrativa de suas ilustrações.

"[...] é um momento importante na evolução histórica dos mangás (grifo nosso), quando houve a fusão de uma longa tradição com a inovação, desaguando no nascimento de histórias em quadrinhos como veículo de comunicação." (LUYTEN, Sonia. 2001, “Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses” pág. 102).

     
     No mesmo ano é criada a primeira revista japonesa de humor ilustrada, baseada no The Japan Punch de Wirgman, o Marumaru Shimbun criada pelo japones Nomura Fumio e ilustrada pelo artista, cartunista Honda Kinkichirô. Essa revista quase sempre continha temas voltadas a críticas sociais e políticas; o sucesso de suas publicações era tão grande que chegou a ultrapassar 15.000 exemplares por edição, tendo duração de 30 anos.

                        

Século XX

        Um dos principais artistas responsável pela popularização e recuperação do termo Mangá, foi o Rakuten Kitazawa, que já utilizava o termo para nomear suas obras; o mesmo em 1902 foi o primeiro a criar quadrinhos seriados com personagens fixos no Japão; o “Tagosaku to Mokubê no Tokyo Kenbutsu” (A Viagem a Tokyo de Tagosaku e Mokubê).

Esses tipos de mangás eram voltados ao público adulto, apenas em 1905, com a criação da revista, Tokyo Puck do mesmo Kitazawa, foi publicado mangás específicos para o público infantil, o Shõnen Sekai e o Shōjo Sekai (uma versão feminina da Shōnen) e a Shonen Pakku, que é considerado a primeira revista de mangás para as crianças.



Capa da Tokyo Puck, por Rakuten Kitazawa

    
Em 1914 já no período Taishõ, mais publicações destinadas ao público juvenil foram lançadas, o primeiro foi o Shonen Club, publicada pela editora Kodansha e tendo especificamente garotos como público alvo; tendo também um Shoujo Club (1923) para garotas e um Yônen Club para leitores mais velhos; essas revistas não eram necessariamente compostas por histórias em quadrinhos, algumas delas tinham relatos escritos com conteúdo educacional tendo a ilustração como complementar. Essa estratificação de mangás por gênero é uma das principais características desse mercado editorial até hoje.

Veja Também:

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Década de 20 antes da Segunda Guerra Mundial

Mangás após a Segunda Guerra Mundial


5. Osamu Tezuka e a renovação do Mangá
Mangá nas Décadas de 50 e 60 
Mangá nos anos 70, 80 e 90


Deu muito trabalho pra pesquisar (hashtag cansado); espero que meu esforço não seja em vão e ajude a vocês conhecerem um pouco mais dessa cultura. Curtam, comentem e compartilhem; beijos e até mais!


Referências:

ALFONS MOLINÉ, O Grande Livro dos Mangás, 2004;

SONIA M. BIBE LUYNE, Mangá e Anime; icones da cultura pop japonesa;

GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos. 1ed. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2006;

JULIANA BRAGA, RICARDO JORGE DE LUCENA LUCAS. O Mangá e a Identidade Japonesa no Pós-guerra, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, 2012;

TAÍS MARIE UETA, YUJI GUSHIKEN. Mangá: Do Japão ao Mundo, uma Trajetória de Hibridações, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cuiabá, MT, 2011;

PEDRO VICENTE FIGUEIREDO VASCONCELLOS Mangá-Dô, os caminhos das histórias em quadrinhos japonesas, 2006;



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