Osamu Tezuka e a renovação do Mangá



Osamu Tezuka e a renovação do Mangá

Osamu Tezuka
      Osamu Tezuka (1928-1989) foi a pessoa responsável por dá início a construção das principais características que são marcas registradas do mangá na contemporaneidade. Tezuka explorou diversos ângulos e perspectivas nos quadros sequenciais das histórias em quadrinhos de um jeito inovador, dando mais profundidade e potencial gráfico visual à narrativa, semelhantes aos efeitos cinematográficos. Ele recebeu influência do cinema americano, de animações da Disney (isso foi possível pelo contato com os americanos, devido a ocupação pós-guerra dos aliados) e do teatro Takarazuka (onde os atores são somente mulheres) de sua cidade natal. Especificamente sua inspiração vinha dos olhos das atrizes do teatro, que eram bastante maquiados, os deixando maiores, Tezuka achava que isso dava dramatização a atuação então decidiu incorporar olhos mais expressivos a suas ilustrações. 

“Sua vasta produção vai ao longo do tempo cada vez mais em direção ao questionamento do ser humano. Para Osamu Tezuka desenhar mangá não era apenas uma forma de entretenimento, mas colocar em seus roteiros, aliados à técnica de explorar efeitos dramáticos ou psicológicos, toda espécie de sentimentos como a dor, o ódio, o amor, a raiva ou a tristeza. É difícil encontrar entre os grandes mestres um artista tão completo, popular, curioso e empenhado constantemente em oferecer através do mangá e dos animês uma variedade tão volumosa de temas e personagens. ” (LUYTEN, Sonia. 2014, Resumo “Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses” pág. 4).

    É importante pontuar que as ilustrações nos mangás não precisam ter necessariamente características estéticas semelhantes (olhos expressivos e grandes), muitas vezes o visual dos mangás se diferem; os olhos expressivos é apenas uma das principais características dessa narrativa.

   O primeiro trabalho de prestigio de Tezuka foi a Shin Takarajima “Nova Ilha do Tesouro” de 1946; esse akabon de 200 páginas roteirizado por Shichima Sakai, vendeu milhares de exemplares, mais tarde ele publicou outros mángas de sucesso que se tornaram clássicos como Jungle Taitei “Imperador da Selva”, conhecido como (Kimba, O Leão Branco no Ocidente); Tetsuwan Atomu “Poderoso Átomo” (Astroboy no Ocidente); Ribon no Kishi “Cavaleiro de Laços” (A Princesa e o Cavaleiro no Ocidente); consequentemente ele ajudou a impulsionar também a animação japonesa, os Animês mais tarde na década de 70. Imagem do mangá, Shin Takarajima abaixo:


Imagens dos mangás Astro Boy e A princesa e o cavaleiro abaixo:

                            

Mangá nas Décadas de 50 e 60

     Nos anos 50 e 60 a indústria do mangá estava se consolidando em grande velocidade; nessa época começaram a surgir novos gêneros, que retomavam questão e temas mais sérios, como o Gekigá (mangá dramático) criado pelo artista Yoshihiro Tatsumi em 1956; como diferenciação dos demais mangás, esse continha forte carga de realismo, dramatização e violência, geralmente destinado a públicos mais maduros.

    Outras mudanças das diversas ocorridas nessas décadas, foi a do desaparecimento das revistas juvenis Shojo e Shonen Club em 1962, porem anos depois, em março de 1959 a Kodansha lança uma nova revista, o Shonen Magazine; deste ano em diante uma serie de revista são lançadas, no mesmo ano a Shonen Sunday pela Shogakikan; a Shonen king editada pela Shonen Gahôsha em 1963, e as Shojos mangás: Margaret, da Shueisha e a Shojo Friend da Kodansha em 1963. Enquanto oriente estava presenciando a expansão do mangá, o ocidente estava conhecendo sua decadência de HQs, pela concorrência com outros tipos de entretenimento, como a TV; o Japão soube aproveitar bem essa mídia investindo na indústria das animações, adaptando mangás já conhecidos a series de animê.

Na década de 60 novamente novos gêneros de mangas começaram a surgir, como os mangás under-ground e de esportes Spokon, além de aparecerem também diversas revistas e editoras voltadas somente a essa indústria.

Mangá nos anos 70, 80 e 90

      Acompanhando o contínuo desenvolvimento industrial do pais, nos anos 70 apareceram diversos novos autores de mangás (mangakás), com seus respectivos dôjinshi (fanzine) que se estabeleceram mais tarde como figuras importantes desse mercado editorial. Nos anos 70 e 80 apareceram também mangás com conteúdo exclusivamente adultos, como Yaoi (mangás que tratavam de relacionamento entre dois homens); a construção desse tipo de mangá foi possível graça aos artistas de dôjinshi que, por serem independentes, tinham mais liberdade de expressão artística; porem os mesmos entrando em alguma grande editora, eram forçados a reduzirem a carga erótica de suas produções.

Com o aumento de fãs interessados pelos mangás e seus respectivos mangákas, a indústria deu lugar a criação do primeiro Comiket em 1975, e a mangás informativos, os Jôhô Manga, nos anos 80. Nos anos 90 o mangá se estabeleceu como uma das principais indústrias editoriais do Japão, exportando seus quadrinhos para todo mundo. Muitos mangás de sucesso nasceram nos anos 90 e 80, e acompanhavam o sucesso dos animês que quase sempre eram baseados nesses quadrinhos.

Animê Kimba, O Leão Branco no Ocidente
Mangás populares como Dragon Ball de Akira Toriyama publicado pela Shonen Jump em 1984; Saint Seiya (Os Cavalheiros do Zodíaco) de Masami Kurumada em 1986; Sailor Moon de Naoko Takeuchi, publicado pela Nakayoshi em 1992; entre outros como Sakura Card Captors (1996), Naruto (1999), Love Hina (1998), Akira (1982), ajudaram também a estabelecer novos gêneros, como o Nekketsu (mangás com cenas de ação que tem personagens que defendem valores como amizade, fidelidade e treinamento), Magical Girl (meninas ou meninos que têm poderes mágicos) e Harém (garoto cercado de garotas que competem por sua atenção). Imagens dos mangás, Sakura Card Captors e Saint Seiya abaixo:

                   

       Nos anos 90 também surgiram movimentos contrários ao mangá, que eram contra conteúdos considerados sexistas, com hiper-sexualização das mulheres e muitas vezes das crianças; esse movimento juntamente com os novos meios de entretenimento (computadores, Videogames, celulares entre outros) causaram uma queda significativa na venda dos mesmos, por isso muitas editoras tentam acompanhar as novidades, procurando novos meios de atingir o público e novas gerações de consumidores, estabilizando o mercado de mangás. Com essas renovações nas décadas de 50 a 90 os mangás ganharam visibilidade internacional estabelecendo uma indústria editorial estável e lucrativa, até no ocidente onde surgem mangákas espirados pelas publicações japonesas importadas para seus países.

Veja também:



Gente! chegamos ao fim! Se você leu todas as postagens sobre "A história do mangá no Japão", parabéns! você é quase um formado nos paranauês históricos otaku! Mas se você começou a ler por essa postagem ou não leu o resto, LEIA! não sabe o que tá perdendo. Espero que tenham gostado de ter conhecido um pouco mais dessa cultura maravilhosa. Curtam, comentem e compartilhem; beijos e até mais!

Como já dizia aquela importante pensadora contemporânea, "Conseguimos, conseguimos, conseguimos" Dora aventureira



Referências:

ALFONS MOLINÉ, O Grande Livro dos Mangás, 2004;

SONIA M. BIBE LUYNE, Mangá e Anime; icones da cultura pop japonesa;

GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos. 1ed. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2006;

JULIANA BRAGA, RICARDO JORGE DE LUCENA LUCAS. O Mangá e a Identidade Japonesa no Pós-guerra, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, 2012;

TAÍS MARIE UETA, YUJI GUSHIKEN. Mangá: Do Japão ao Mundo, uma Trajetória de Hibridações, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cuiabá, MT, 2011;

PEDRO VICENTE FIGUEIREDO VASCONCELLOS Mangá-Dô, os caminhos das histórias em quadrinhos japonesas, 2006;


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