Mangá antes e depois da Segunda Guerra Mundial



Década de 20 antes da Segunda Guerra Mundial

     Mais tarde em 1923 foram lançadas publicações diárias de mangás infantis, como o Shô-chan no Bôken (As aventuras de Shô-Chan) lançada pela Asahi Graph, roteirizado por Oda Shôsei e ilustrado por Katsuichi Kabashima; o mangá é protagonizado por um menino e seu esquilo de estimação, que saem atrás de aventuras em lugares exóticos, esse mangá pode ser considerado o antecedente de “As aventuras deTintin”, de Hergé, pois foi lançado mais tarde em 1929. Imagens de Shô-chan no Bôken abaixo:
 
                  

      Esses tipos de quadrinhos muitas vezes eram usados para trazer esperança a população em épocas difíceis, um exemplo disso e em 1929 com a queda de valores da bolsa de New York (Grande Depressão); essa crise teve impacto também no Japão, trazendo grande descontentamento e desanimo aos japoneses; para trazer animo à população foram criadas histórias cômicas com personagens otimistas, essas histórias tinham como objetivo o fortalecimento e exaltação do pais, um exemplo disto e do mangá Norakuro publicado pela Kodashan em 1931 de SuihõTagawa, o personagem se parece com uma espécie de cachorro com traços semelhantes ao dos desenhos de Walt Disney, o quadrinho reforçava o nacionalismo e o militarismo japonês. Imagens do mangá Norakuro abaixo:


            

      Além de Norakuro, nos anos 30 começaram a surgir vários mangás de sucesso como Boken Dankichi “Dankichi, o aventureiro” (1933) de Keizo Shimada, que contava a história de um garoto Japonês que chega a uma ilha tropical, e lá se transforma no rei dos nativos; nas ilustrações desse mangá, entre outras da mesma época, os negros eram representados de forma racista, contendo exagero nas caracterizações das características dos personagens (boca grande entre outras) além de inferiorizarem dos mesmos cognitivamente. 

      É importante ressaltar que a época que esses quadrinhos eram publicados era o período Shõwa pré-1945 (1926-1945) no “Império do Japão”; período em que o pais foi tomado pelo totalitarismo político, ultranacionalismo e imperialismo militar. Nesse período havia grandes conflitos sociais no mundo, como a Grande Depressão (como já havia dito anteriormente) e a Segunda Guerra Mundial; como consequência a imprensa e todas atividades culturais, artísticas foram submetidas à censura do governo, essa censura se limitava aos quadrinhos com fins de propaganda governamental muitas vezes com forte conteúdo ideológico. Imagens do mangá Bôken Dankichi abaixo:

                          

      A presença de estereótipos raciais nos quadrinhos era constante nas décadas de 30 a 70, o questionamento desse tipo de representação só surgiu na década de 90; esses movimentos anti-mangá não só abrangiam o racismo nos quadrinhos, mas também publicações no geral (representação das mulheres, mangás eróticos “Hentai” e violentos) esse tipo de repressão não só se restringiu ao mangá, mas também aos HQs americanos no Ocidente. 

     Outros mangás importantes da década de 30 são, Speed Tarô (1930) de Sagyô Shishido; Fuku-Chan (1936), de Ryuichi Yokohama e Tanku Tankurô, criado por Gajô Sakamoto para o Yônen Club, provável antecessor e expirador dos futuros quadrinhos de robôs (o gênero Mecha); esses artistas eram bastantes influenciados por artistas estrangeiros, porem com o tempo os mesmos foram aperfeiçoando seus próprios estilos de traço e narrativa, possibilitando a criação de mais gêneros dessa linguagem visual. Imagens do mangá Tanku Tankurô abaixo:


    

    No início da segunda guerra mundial houve uma grande redução na produção de mangás, causada pela pouca quantidade de papel e pelos mecanismos de censura que restringiu ainda mais os mangás apenas a propaganda bélica.

Mangás após a Segunda Guerra Mundial

    Com a derrota do Japão pelos Aliados e os trágicos bombardeiro de Hiroshima e Nagasaki, o Japão entrou em uma etapa obscura, porem de recomeço e recuperação, iniciando uma nova era; a indústria dos mangás foi forçada a recomeçar do zero.

Imagem Narrador de Teatro de papel “Kamishibai”
    Sobre a administração americana por causa da ocupação do Japão pelas forças aliada, o pais foi obrigado a suspender qualquer mídia ou expressão artística que lembrasse do espírito de luta nacional; a necessidade de entretenimento barato, fez ressurgir o Kamishibai “Teatro de papel”; esse teatro oferecia ao público histórias em quadrinhos que eram desenhados em lenços e apresentados por um narrador em um suporte (que lembra uma janela); apesar de seu sucesso nos anos 40, esse tipo de entretenimento decaiu devido a chegada da Televisão no Japão em 1953.


     Esse teatro teve grande importância pois contribuiu diretamente para a reconstrução e difusão dos novos mangás; muitos narradores se transformaram em ilustradores magakás, e personagens popularizados pelos Kamishibai se transformaram mais tarde em séries famosas mangás para a época.

    No pós-Guerra devido aos altos custos de produção, esses mangás eram publicados e impressos em papéis mais baratos; formatos do tipo Yakabon (pequenos livros vendidos em lojas de brinquedos) e o Akabon “Livros vermelhos” (livros originários de Osaka, que eram impressos em tintas vermelhas e vendidos por vendedores ambulantes). Foi inventado também um sistema de aluguel desses quadrinhos, o Kashibon ou Kashihon Manga, esse sistema foi muito usado por causa da raridade e dos preços elevado dos mesmos. Com a recuperação econômica do Japão, os Kashibon Manga foram perdendo sua importância, pois os mesmos deixaram de ser um produto caro.

Imagem de um Akabon


Veja também:


Deu muito trabalho pra pesquisar (hashtag cansado); espero que meu esforço não seja em vão e ajude a vocês conhecerem um pouco mais dessa cultura. Curtam, comentem e compartilhem; beijos e até mais!

Referências:

ALFONS MOLINÉ, O Grande Livro dos Mangás, 2004;

SONIA M. BIBE LUYNE, Mangá e Anime; icones da cultura pop japonesa;

GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos. 1ed. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2006;

JULIANA BRAGA, RICARDO JORGE DE LUCENA LUCAS. O Mangá e a Identidade Japonesa no Pós-guerra, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, 2012;

TAÍS MARIE UETA, YUJI GUSHIKEN. Mangá: Do Japão ao Mundo, uma Trajetória de Hibridações, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cuiabá, MT, 2011;

PEDRO VICENTE FIGUEIREDO VASCONCELLOS Mangá-Dô, os caminhos das histórias em quadrinhos japonesas, 2006;




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